Os cientistas suspeitavam da existência de um pequeno felino único que poderia estar vagando pelas Américas Central e do Sul há mais de uma década. No entanto, foi necessário um extenso trabalho genético e a colaboração de 40 especialistas para reunir todas as evidências e confirmar o registro dessa nova espécie de gato-tigre.
Boa parte das pessoas está familiarizada com grandes felinos como leões e tigres, mas poucos conhecem os gatos-tigre, que têm o tamanho de um gato doméstico e são encontrados da Costa Rica à Argentina.
Há uma dificuldade até mesmo os especialistas em identificar esses felinos da América Latina. Até recentemente, apenas duas espécies de gatos-tigre eram formalmente reconhecidas: o gato-tigre do norte, conhecido como oncilla (Leopardus tigrinus), e o gato-tigre do sul, ou tigrina do sul (Leopardus guttulus), que inclui três subespécies.
Há cerca de 14 anos, Tadeu de Oliveira recebeu um e-mail que desafiou tudo o que ele sabia sobre pequenos felinos. Em 22 de junho de 2010, o conservacionista da vida selvagem da Universidade Estadual do Maranhão recebeu uma mensagem da pesquisadora Rebecca Zug, que estava trabalhando com ursos de óculos no Equador. Zug havia capturado fotos de um pequeno felino com uma aparência incomum, incluindo uma cauda longa e muitas manchas – um gato-tigre diferente de qualquer outro conhecido por Oliveira. “Fiquei fascinado com o que vi”, lembra ele.
Avançando para 2024, Oliveira se uniu a mais de 40 pesquisadores para formalmente descrever uma nova espécie chamada gato-nebuloso (Leopardus pardinoides), elevando o número total de espécies de gatos-tigre para três. A equipe analisou 1.400 registros de museus e imagens de armadilhas fotográficas para comparar tamanhos, formas e padrões de cores entre os gatos-tigre e para definir os habitats de cada espécie. A genética do gato-nebuloso também foi estudada para confirmar seu status como uma nova espécie.
Embora a descoberta de uma nova espécie seja um avanço significativo, os cientistas também revelaram uma realidade preocupante: cada espécie de gato-tigre está presente em menos áreas do que se pensava. “Eles perderam mais de 50% de sua área original”, explica Oliveira, destacando que o alerta vermelho de extinção foi acionado.
Acompanhando os Felinos-Tigre
Com a inclusão do gato-nebuloso, o gênero Leopardus agora conta com nove espécies. “Pode ser confuso para o público, pois o gênero não está relacionado ao leopardo”, explica o coautor do estudo, Eduardo Eizirik, geneticista de conservação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. O gênero Leopardus abrange espécies do Hemisfério Ocidental, incluindo a jaguatirica, o gato-maracajá, o gato-andino e o gato-dos-pampas, além dos gatos-tigre.
Os pesquisadores descobriram que cada espécie de gato-tigre tem seu próprio habitat: os gatos-nebulosos vivem nas cadeias montanhosas da América Central e na Cordilheira dos Andes, enquanto o Leopardus tigrinus está restrito às savanas do Escudo das Guianas e do Brasil central e nordeste. O Leopardus guttulus habita as florestas de planície da costa atlântica do Brasil. Por isso, os autores sugerem renomear as espécies como gato-tigre do cerrado e gato-tigre da Mata Atlântica, respectivamente.
“Eles evoluíram separadamente e desenvolveram suas próprias adaptações e funções ecológicas”, afirma Eizirik. “É crucial conservá-los porque desempenham um papel vital em seus ecossistemas e representam linhagens únicas.”
Perigos para os Gatos-Tigre
Infelizmente, os gatos-tigre enfrentam ameaças significativas, como a perda de habitat devido à agricultura e ao desenvolvimento, e doenças transmitidas por animais domésticos, como o vírus da cinomose canina. A maioria das populações de gatos-tigre está fora de áreas protegidas, semelhante à situação dos guepardos na África. A União Internacional para a Conservação da Natureza já considera o Leopardus tigrinus e o Leopardus guttulus como vulneráveis à extinção, e é provável que um status ainda mais grave seja atribuído a eles, com o gato-nebuloso possivelmente se juntando à lista.
“Toda vez que falo sobre isso, fico emocionado”, diz Oliveira, fundador da Tiger Cats Conservation Initiative, que trabalha para vacinar animais domésticos contra doenças e reabilitar gatos-tigre confiscados do comércio ilegal. “Publicar artigos é importante, mas tomar medidas de conservação é essencial. Você não pode fazer uma coisa sem a outra. Caso contrário, não estará cumprindo seu papel.”
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