Você já ouviu falar em um animal real com um “chifre de unicórnio” que nada nas águas geladas do Ártico? Ele existe — e se chama narval. Conhecido como o “unicórnio do mar”, esse mamífero marinho tem uma longa presa em espiral que pode chegar a 3 metros de comprimento, o que o torna uma das criaturas mais fascinantes e misteriosas do oceano.
Com aparência digna de contos de fadas, o narval (Monodon monoceros) pertence à família dos cetáceos, a mesma de baleias e golfinhos. Ele pode alcançar até 5 metros de comprimento (sem contar a presa) e pesar mais de 1.600 quilos. Mas o que realmente o destaca é sua impressionante estrutura que sai da cabeça, muitas vezes confundida com um chifre — mas que, na verdade, é um dente canino esquerdo modificado, que cresce para fora do lábio superior.
A lenda do “chifre de unicórnio”
Durante séculos, marinheiros vendiam as presas do narval como se fossem “chifres de unicórnio”, alegando que tinham poderes mágicos. Elas eram extremamente valiosas na Europa medieval, usadas como supostos amuletos contra venenos e doenças. Na verdade, o que poucos sabiam é que se tratava de um dente repleto de terminações nervosas.

A ciência moderna revelou que essa presa não é decorativa: trata-se de um órgão sensorial altamente sensível, capaz de detectar mudanças mínimas na temperatura, pressão, salinidade e correntes da água. Essa função sensorial pode ajudar o narval a caçar, se orientar e até interagir com outros indivíduos. Há registros de narvais encostando suas presas, possivelmente como forma de comunicação.

Em casos raros, algumas fêmeas também desenvolvem a presa, e já foram registrados narvais com duas presas — uma em cada lado da mandíbula superior.
Como vive o narval?
O narval é um animal de hábitos discretos e difíceis de observar. Ele vive em bandos que podem variar de poucos indivíduos a centenas, em regiões do Ártico como o norte do Canadá, a Groenlândia e partes da Rússia. Durante o inverno, permanece sob o gelo, emergindo apenas por pequenas aberturas chamadas “polínias” para respirar.

Apesar do grande porte, ele é ágil e consegue realizar mergulhos profundos de até 1.500 metros para se alimentar. Sua dieta inclui peixes como bacalhau, além de moluscos e lulas. Ele não é migratório como outras baleias, mas realiza pequenos deslocamentos sazonais em busca de alimento e segurança.
Por ser extremamente tímido e viver em áreas remotas, ainda há muito a ser descoberto sobre o narval. Grande parte do que se sabe vem de estudos com populações indígenas que vivem próximas ao habitat da espécie e têm uma relação ancestral de observação e caça sustentável.
Uma espécie em alerta
Embora não esteja formalmente classificado como ameaçado de extinção, o narval é considerado uma espécie “quase ameaçada” pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza). Isso significa que, se as pressões ambientais continuarem, ele poderá entrar na lista de risco nas próximas décadas.

As principais ameaças ao narval incluem:
- O derretimento do gelo polar causado pelas mudanças climáticas;
- O aumento do tráfego de navios no Ártico;
- A exploração de petróleo e gás em regiões sensíveis;
- Ruídos submarinos que desorientam os cetáceos.
Por outro lado, o conhecimento tradicional de povos indígenas — como os Inuit — tem ajudado na preservação da espécie. Eles acompanham os movimentos dos narvais há séculos e praticam uma caça regulada, respeitando o equilíbrio da natureza.
O narval é uma das criaturas mais fascinantes do mundo natural. Seu “chifre de unicórnio”, que já alimentou lendas e mitos por séculos, hoje é compreendido como uma complexa ferramenta sensorial. Ainda assim, muito sobre ele continua envolto em mistério — como se a natureza quisesse preservar um pouco da sua mágica.

Mais do que um animal curioso, o narval é um símbolo da riqueza e fragilidade da vida nos polos. Preservá-lo é garantir que as próximas gerações também possam se encantar com o que há de mais extraordinário nos oceanos.
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