Entre os milhares de peixes que habitam os rios da América do Sul, poucos causam tanto espanto visual quanto o Pacu. À primeira vista, ele pode ser confundido com uma piranha comum. Mas, ao olhar mais de perto, o choque é inevitável: o Pacu tem dentes surpreendentemente parecidos com os de um ser humano — retos, quadrados e alinhados, como se tivesse usado aparelho.
Esse detalhe bizarro já foi responsável por muitas fotos virais e manchetes sensacionalistas, mas por trás da aparência excêntrica está uma história de adaptação evolutiva fascinante. Muito mais do que um “peixe com cara de gente”, o Pacu desempenha um papel importante na cadeia ecológica dos rios sul-americanos.
Um peixe parente da piranha (mas com comportamento bem diferente)
O Pacu pertence à mesma família das piranhas, os caracídeos, mas com comportamentos e funções ecológicas muito distintos. Enquanto a piranha é carnívora e tem dentes afiados voltados para cortar carne, o Pacu é onívoro. Seus dentes são achatados, adaptados para triturar frutas, sementes e nozes duras que caem das árvores para os rios.

Esse tipo de alimentação faz do Pacu um agente natural de dispersão de sementes, contribuindo com o ciclo de regeneração das florestas tropicais. Ele pode quebrar castanhas como se fosse um ser humano mastigando uma bolacha — com precisão e força.
Seu formato dentário não é uma mutação, nem um acidente genético. Ele evoluiu dessa forma como resposta direta ao ambiente em que vive. Essa adaptação deu tão certo que hoje ele é encontrado em diversos ecossistemas aquáticos da América do Sul, principalmente na bacia Amazônica e no Pantanal.
Dentes humanos? Ou só a natureza sendo criativa?
A semelhança dos dentes do Pacu com os nossos gerou comparações engraçadas — e até boatos exagerados. Em 2013, um caso ganhou o mundo: o Pacu teria sido introduzido em lagos da Papuásia-Nova Guiné, e jornais noticiaram que ele teria mordido testículos de banhistas. A história viralizou, mas era mais lenda urbana do que fato científico.

Mesmo sendo distorcida, a repercussão deu fama global ao peixe. Ele passou a ser conhecido como o “peixe com dentes humanos”, título que reforça sua aparência única. Mas o mais importante é entender que seus dentes têm função prática: triturar alimentos resistentes, um papel que a piranha, com seus dentes cortantes, não poderia cumprir.
Visualmente, o Pacu tem corpo achatado, olhos grandes, boca larga e coloração que vai do cinza claro ao escuro, dependendo da espécie e do habitat. Algumas espécies apresentam manchas, outras têm colorações avermelhadas.

Tamanho, importância econômica e curiosidades
O Pacu pode chegar a 90 centímetros de comprimento e pesar mais de 25 quilos, sendo um peixe robusto e valorizado. Ele é muito procurado na pesca esportiva, principalmente no Pantanal, e também faz parte da culinária regional. No Mato Grosso do Sul, pratos com Pacu assado ou recheado são bastante tradicionais.

Além do sabor apreciado, o peixe chama atenção por sua força durante a pesca, oferecendo desafio aos pescadores. Em muitos pesqueiros do Brasil, o Pacu é criado em cativeiro tanto para pesca quanto para consumo.
O interesse pelo Pacu não é apenas gastronômico ou estético. Biólogos o estudam como exemplo de como a evolução pode produzir soluções impressionantes e funcionais — como dentes incrivelmente semelhantes aos humanos, desenvolvidos por um peixe.
O Pacu é mais do que um peixe de aparência estranha. Ele representa uma lição clara da natureza: forma segue função. Seus dentes, embora engraçados aos nossos olhos, são perfeitamente adequados ao seu estilo de vida. E, por mais inusitado que pareça, mastigar como um ser humano foi o melhor caminho para sua sobrevivência.
No fim das contas, o Pacu nos lembra que o mundo natural ainda é capaz de surpreender — e que até nos rios mais conhecidos pode viver um peixe com dentes que parecem ter saído direto de um consultório odontológico.